Washington, 16 de abril de 2015.- Com o crescimento da China em ritmo mais moderado e a tendência de estabilização dos preços das commodities em níveis mais baixos, a América Latina e o Caribe terão que se adaptar a uma “nova situação de normalidade”. O crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) na região, que vem diminuindo de forma constante e acentuada desde 2011, deverá alcançar apenas 0,8% este ano, e poderá se manter baixo no futuro a menos que sejam adotadas reformas estruturais ambiciosas e direcionadas ao crescimento. O incentivo à poupança, que deveria ser um importante ingrediente de uma agenda de estímulo ao crescimento, também ajudaria a recompor a margem de manobra da política fiscal e monetária.
Em seu mais recente estudo semianual, “A América Latina trilha um caminho estreito para o crescimento: a desaceleração e seus desafios macroeconômicos”, o Escritório do Economista-Chefe para a América Latina e o Caribe do Banco Mundial prevê um quarto ano de crescimento lento na região. O estudo conclui que o forte crescimento dos anos 2000 provavelmente não se repetirá na região, a menos que sejam implementadas vigorosas reformas que visem o crescimento.
“A evidência sugere que os choques externos, provenientes da desaceleração econômica e das mudanças nas trocas comerciais chinesas, são permanentes”, afirmou Augusto de la Torre, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe. “Na ausência de reformas estruturais que estimulem o crescimento, esta situação indica claramente uma também contínua desaceleração econômica na região, com taxas que seriam insuficientes para apoiar um avanço social significativo”.
Além do que mostram as médias, a região continua a ter indicadores muito diversificados. Os países sul-americanos exportadores de commodities estão crescendo em ritmo muito mais lento do que os importadores de matérias-primas na América Central e no Caribe. A Venezuela se encontra em uma situação especialmente difícil entre os exportadores, com a expectativa de que sua economia sofra mais uma retração de 5% em 2015. Também estariam em um contexto negativo o Brasil e a Argentina, países que apresentam realidades muito diferentes, mas que estão puxando para baixo a média regional devido ao tamanho de suas economias. Este ano, a desaceleração deverá afetar outros países exportadores de commodities sul-americanos - como a Bolívia, a Colômbia e o Equador-, que apresentaram um crescimento relativamente forte em 2014. Enquanto isso, os importadores de matérias-primas na região estão se beneficiando com os preços mais baixos e vão crescer acima da média regional em 2015. Somando-se a isso, elevadas taxas de crescimento são esperadas, em particular no Panamá, na Nicarágua e na República Dominicana. Favorecido pela recuperação dos Estados Unidos, o México deverá crescer este ano acima da média regional.
O estudo, lançado às vésperas das Reuniões de Primavera do Grupo Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), mostra que a América Latina e o Caribe sofreram uma desaceleração maior do que todas as outras regiões emergentes. Isso reflete os efeitos amplificadores de um forte e incomum declínio no investimento entre os países exportadores de commodities na região.
Neste ambiente externo menos favorável, os líderes latino-americanos estão se deparando com as mais diferentes opções de respostas de políticas destinadas a estimular suas economias. Os importadores de commodities, como os países do leste caribenho, irão trilhar um caminho mais fácil devido aos menores preços das matérias-primas e à recuperação dos Estados Unidos. Os exportadores de matérias-primas com pouca flexibilidade cambial, provavelmente enfrentarão um período mais difícil porque a transição para a “nova situação de normalidade” dependerá de uma expressiva redução na despesa agregada.
“Analisar o passado é sempre mais fácil, mas podemos dizer agora que tanto o setor privado quanto o público em muitos países da região interpretaram a mudança no ambiente externo, e consequentemente a natureza da desaceleração, como transitória. Isto resultou em uma contínua expansão nos gastos mesmo quando o crescimento da renda estava em declínio, o que acabou reduzindo a margem de manobra monetária e fiscal”, afirmou de la Torre. “Sob uma perspectiva futura, agora torna-se claro que a adoção de políticas para estimular a poupança será importante com vistas a fortalecer as bases para o crescimento e a estabilidade macroeconômica. Este é um desafio que demandará tempo, mas que irá mostrar que aprendemos com as nossas experiencias”.
Atualmente, as taxas de poupança na América Latina estão cerca de dez pontos percentuais abaixo dos indicadores da Ásia. Segundo o relatório, taxas mais elevadas proporcionariam o fôlego necessário às políticas monetária e fiscal. Além disso, há crescentes evidências de que a poupança pode promover o crescimento tanto apoiando uma taxa de câmbio real mais depreciada quanto reduzindo a dependência da poupança externa. Ambos estimulariam a competitividade externa, e diminuiriam o custo do capital, respectivamente, aumentando a sustentabilidade do crescimento. Os indícios mostram que os países que poupam mais, apresentam taxas cambiais mais competitivas, exportam mais e crescem mais.