Lima, 8 de maio.- A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) apresentou uma proposta para avançar em direção à integração regional a partir de uma maior articulação produtiva entre os países, que permita responder ao atual momento histórico caracterizado pela acelerada inovação tecnológica, o reposicionamento dos distintos atores na economia mundial e a constituição de mercados regionais ampliados.
Em seu documento Integração regional: por uma estratégia de cadeias de valor inclusivas, a CEPAL destaca a vigência do conceito de integração no atual contexto internacional como um componente básico da transformação produtiva e das estratégias de crescimento com igualdade.
Especificamente, o organismo propõe políticas para a criação de cadeias de valor regionais e sub-regionais que impulsionem o intercâmbio manufatureiro, o comércio intra-industrial, a internacionalização das PMES e o aumento do número de empresas exportadoras e de bens exportados.
A proposta foi apresentada durante o Seminário Desafios da Integração Regional, no marco do Trigésimo quinto Período de Sessões que a Instituição realiza até sexta-feira, 9 de maio, em Lima, Peru.
Nesse relatório, a CEPAL também, conclama os países a concretizarem ações conjuntas em matéria de integração financeira, de infraestrutura, digital, social e ambiental, que apoiem a promoção de uma maior integração produtiva regional.
Igualmente, promove-se a ação coletiva em matéria de inovação e ciência e tecnologia, com o objetivo de fomentar a presença de empresas e centros tecnológicos da região nas redes mundiais do conhecimento.
Com essas ações busca-se construir vantagens que permitam à região posicionar-se em um contexto mundial de reestruturação, onde as economias emergentes e em desenvolvimento ganhem crescente presença no cenário global e onde as relações Sul-Sul, particularmente entre a região e a Asia-Pacífico condicionarão de forma decisiva as opções de desenvolvimento.
Segundo o relatório, durante a última década, a dinâmica de integração regional latino-americana e caribenha tem vivenciado transformações importantes.
Por exemplo, alguns países têm se mostrado críticos em relação à ênfase que se tem dado à dimensão comercial que caracterizou várias das principais iniciativas da integração nos anos noventa. Essas nações têm procurado focar esforços na ampliação da agenda da integração para outras áreas, dando ênfase nas dimensões política e social.
Outro elemento que tem influído nessas transformações tem sido a crise financeira mundial que se iniciou em setembro de 2008, cujos efeitos ainda são sentidos, especialmente nas economias industrializadas.
A magnitude da crise colocou em dúvida várias das concepções do proceso de globalização e ressaltou visões mais heterodoxas que atribuam um maior papel ao Estado, não somente como regulador, mas como articulador de políticas industriais ativas.
En seu relatório, a CEPAL destaca que a economia da América Latina e do Caribe mantém uma acentuada dependência dos ciclos externos. Dado que o contexto econômico internacional para a região pareça menos favorável que no período de 2003-2011, é necessário refletir sobre o papel chave que a integração regional pode desempenhar na melhora de sua inserção internacional.
O documento ressalta que é difícil pensar que a região possa alcançar um crescimento sustentável, reduzindo-se a pobreza e a desigualdade e avançando em matéria de inovação, sem diversificar sua estrutura produtiva e exportadora. Por isso recomenda a necessidade de avançar em direção a marcos normativos comuns que incentivem as empresas de cada país a articular suas operações com outras empresas além das fronteiras.
A publicação destaca que o surgimento das cadeias de valor na economia mundial tem chamado a atenção sobre a importância do espaço regional como pilar das principais redes de produção, que se caracterizam por complexos fluxos de bens, serviços, informação e pessoas.
Para os países da região, o desafio consiste não somente em fazer parte das cadeias de valor, mas em construir elementos diferenciadores que lhes permitam subir na hierarquia das mesmas, além da dotação de recursos naturais ou os baixos custos do trabalho.
Para esta finalidade, a CEPAL propõe a criação gradual de espaços compartilhados de política industrial em setores produtivos com potencial para gerar cadeias de valor competitivas. Contribuem a favor desta proposta os avanços que a região tem experimentado em diversos âmbitos, afirma o organismo.
A América Latina e o Caribe contam hoje com uma melhor gestão macrOECOnômica, têm conseguido desenvolver capacidades tecnológicas em várias atividades e setores, e alguns de seus países têm dado passos significativos na governança de recursos naturais. Além disso, suas economias são em geral mais abertas e muitas delas estão interconectadas por acordos comerciais.
A região tem desenvolvido uma arquitetura de integração densa e complexa, com a criação na última década da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), da União de Nações Sul-Americanas (UNASUR), da Aliança Bolivariana para as Américas - Tratado de Comércio dos Povos (ALBA-TCP) e da Aliança do Pacífico.
Essas iniciativas têm se somado aos mecanismos sub-regionais de integração previamente existentes, levando em consideração a importância e os desafios de uma convergência entre os distintos processos e iniciativas de integração. O relatório da CEPAL argumenta que tal convergência será necesariamente um processo gradual e não linear.
Por último, a Instituição considera a integração como uma política de Estado que busque convergências e não pretenda eliminar as diferenças, mas torná-las manejáveis. Em uma região diversa como a América Latina e o Caribe, este é o principal desafio para se alcançar uma integração que impulsione a mudança estrutural que se faz necessária.