Santiago, 30 de maio de 2014.- A América Latina e o Caribe alcançaram em 2013 um novo recorde histórico ao receber US$ 184,9 bilhões de investimento estrangeiro direto (IED), 5% a mais que em 2012 em valores nominais, informou a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
Os fluxos mundiais de IED aumentaram 11% em 2013, em relação ao ano anterior, enquanto que a participação da América Latina e do Caribe no total mundial manteve-se em 13%, indica o Relatório O Investimento Estrangeiro Direto na América Latina e no Caribe 2013, apresentado na sede do organismo das Nações Unidas em Santiago do Chile.
Desde 2003 o IED para a região tem crescido continuamente, salvo em 2006 e 2009, ainda que em relação ao tamanho das economias manteve-se praticamente estável desde 2011. Este crescimento tem se sustentado no aumento da demanda interna e dos altos preços dos produtos primários de exportação.
Nos dois últimos anos, a expansão econômica desacelerou-se e os preços dos metais caíram, de modo que a CEPAL projeta que em 2014 as entradas de IED cairão levemente. Mesmo assim, o organismo observa que as empresas transnacionais mostram, também, grande interesse no crescimento a longo prazo do consumo na região e na exploração dos recursos naturais.
Segundo o estudo, 82% dos fluxos de IED dirigem-se para as seis principais economias da região, ainda que em termos relativos são mais relevantes nas pequenas, especialmente as do Caribe.
O Brasil recebe 35% do IED que chega na América Latina e Caribe: em 2013 atraiu US$ 64 bilhões, levemente abaixo de 2012. O México é o segundo receptor, com US$ 38,3 bilhões em 2013, o dobro do recebido em 2012, graças à aquisição da cervejaria Modelo por Anheuser-Busch Inbev com US$ 13,2 bilhões.
Receberam menos fluxos de investimento estrangeiro direto em 2013 o Chile (-29%), a Argentina (-25%) e o Peru (-17%), enquanto que no Panamá (61%) e na Bolívia (35%) estes aumentaram significativamente. A América Central captou 21% mais IED que em 2012 e o Caribe registrou uma queda de 19% (devido a uma operação específica na República Dominicana).
"Na última década, o investimento estrangeiro direto na América Latina e no Caribe tem se multiplicado por quatro, mas é necessário analisar seu papel diante da mudança estrutural para a igualdade. Acreditamos que estes ingressos deveriam fazer parte dos processos de diversificação produtiva que os países da região estão buscando implementar", afirmou a Secretária-Executiva da CEPAL, Alicia Bárcena.
Segundo Alicia Bárcena, "os investimentos em setores de alto conteúdo tecnológico podem ter maior capacidade de gerar impactos positivos na economia local, assim também as transnacionais poderiam estabelecer vínculos e encadeamentos produtivos com as empresas locais".
A rentabilidade média das empresas transnacionais na região diminuiu para menos de 6%, seu nível mais baixo em uma década, principalmente pela queda do preço de algumas matérias-primas de exportação. Apesar disto, os lucros totais destas empresas aumentaram até US$ 111,7 bilhões em 2013. A remessa desses lucros, indica o Relatório, representa um fluxo negativo que tem repercussão no déficit da conta corrente da região.
Com relação aos setores que receberam IED, o estudo da CEPAL não evidencia mudanças significativas. Em 2013 o setor de serviços recebeu 38% do total, o de manufaturas, 36% e o de recursos naturais, 26%.
A Europa, como região, encabeçou em 2013 a lista dos principais investidores na região: tanto no Brasil como no México foi responsável por cerca da metade dos fluxos de IED. Os Estados Unidos, por sua parte, continua sendo o maior país investidor individual.
O investimento direto proveniente da Ásia se manteve estável em 2013, com o Japão liderando. O IED de origem chinesa é difícil de identificar nas estatísticas oficiais, informa a CEPAL, mas as estimativas indicam que desde o ano de 2010 este país investe cerca de US$ 10 bilhões ao ano em toda a região.
Em 2013, os investimentos das empresas transnacionais latino-americanas, conhecidas como translatinas, caíram 33% para US$ 31,6 bilhões. Não obstante, estas empresas seguem mostrando um grande dinamismo, ressalta o Relatório.
Entre as 50 maiores empresas translatinas destacam-se as procedentes do México (16), Brasil (14), Chile (11), Colômbia (6), Argentina (2) e Venezuela (1). Estas se internacionalizaram em indústrias básicas (hidrocarbonetos, mineração, cimento, celulose e siderurgia), manufaturas de consumo massivo (alimentos e bebidas) e alguns serviços (energia elétrica, telecomunicações, transporte aéreo e comércio varejista).
Finalmente o estudo analisa alguns efeitos do IED sobre o emprego, tanto em termos de quantidade como de qualidade dos postos de trabalho criados.
Uma primeira observação é que a contribuição das empresas multinacionais à criação de empregos na última década na região tem sido secundária. Entre 2003 e 2013, houve uma maior contribuição à criação de empregos diretos que no passado, graças aos 60% do IED dirigidos aos projetos destinados a ampliar a capacidade produtiva. Não obstante, estima-se que estes geraram não mais de 5% da criação líquida de empregos na região nesse período.
Segundo a CEPAL, é necessário que as políticas para o IED sejam parte dos esforços de diversificação produtiva que muitos países da região estão realizando, e que as estratégias das empresas transnacionais sejam compatíveis com os objetivos de desenvolvimento dos países receptores de investimento estrangeiro direto.
Para isso é urgente desenvolver uma institucionalidade e políticas para atrair o IED para os setores que os países consideram prioritários em seus planos de transformação produtiva. Desta maneira, as empresas transnacionais poderiam se vincular de melhor maneira com a estrutura produtiva local.